Por Igor Natusch. Jornal do Comércio
Simone, Paola e Dóris atuarão em espaço pioneiro no Estado LUIZA PRADO/JC - Jornal do Comércio |
O município de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre-RS, iniciou em 29/04/19 um projeto pioneiro no diagnóstico e tratamento do autismo. Diariamente, entre 18h e 20h30min, estará funcionando o Ambulatório de Diagnóstico Precoce e Cuidado da Criança e Adolescente com Transtorno do Espectro Autista, que pretende transformar-se em referência no Estado para a identificação e tratamento do transtorno. O serviço está localizado no Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (Caps IJ), no bairro Mathias Velho. A iniciativa, segundo a prefeitura, nasce a partir de uma demanda identificada na rede de assistência do município. Um dos principais efeitos esperados é disparar uma mudança significativa no fluxo de diagnóstico e encaminhamento dos jovens pacientes. O processo terá início nas 27 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município. Quando o médico do posto suspeitar que o paciente está localizado no espectro autista, será feito o encaminhamento até o ambulatório, onde ocorrerá o diagnóstico definitivo. Para isso, a nova unidade contará com serviços de psiquiatria, psicologia, neurologia e fonoaudiologia, entre outros, além da presença de enfermeiros e assistentes sociais. Os profissionais do Caps IJ passaram por capacitação na semana passada, e o mesmo treinamento está sendo oferecido aos que atuam nas UBSs. Os sintomas do autismo relacionam-se, de modo geral, com dificuldades de interação e criação de vínculos. É comum, por exemplo, os pais relatarem que os filhos não atendem quando chamados pelo nome, ou a ocorrência de movimentos repetitivos e déficits de linguagem. Dóris Luft, psicóloga e integrante da equipe de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde de Canoas, explica que a identificação do transtorno costuma ocorrer no começo da idade escolar, entre 5 e 6 anos de idade. Uma das metas do novo ambulatório é fazer com que esse diagnóstico aconteça de forma mais precoce, o que amplia as chances de um tratamento efetivo. Tanto na identificação quanto no tratamento que se segue, a atuação da família é fundamental. E o novo ambulatório trabalha nesse sentido, disponibilizando acompanhamento de psicólogos e assistentes sociais, além de orientar os parentes a realizar os estímulos necessários para que a criança ou adolescente tenha uma melhor qualidade de vida. Paola Pasquotto, coordenadora do Caps IJ, realça a importância de integrar o ambulatório a uma rede de assistência externa à administração municipal, como forma de propiciar aos jovens especialidades como cão terapia, equoterapia e hidroterapia. "Não queremos que seja um fluxo (de tratamento) fragmentado demais, moroso, mas também não é interessante que este aqui seja o único espaço que a criança frequente. É importante que ela realize atividades em outros locais, que tenha interação com a comunidade", descreve. Tudo isso, é claro, respeitando o tempo e as necessidades de cada criança. "Não trabalhamos com um período pré-determinado para o diagnóstico", acentua Simone Glimm, que também atua na equipe de Saúde Mental da prefeitura. "Esse é um espaço de cuidado, não um lugar para rotular. É fundamental pensar na criança como um ser em desenvolvimento, acima de tudo."